
Nova taxonomia e nomenclatura de vírus na era da genômica
Os recentes avanços em biologia molecular, em particular no sequenciamento metagenômico, têm revelado um viroma surpreendentemente amplo em toda a biosfera. Isso multiplicou o número de espécies reconhecidas pelo Comitê Internacional de Taxonomia de Vírus (ICTV) de 3.185, em 2014, para 16.215, em março de 2025 (Master Species List v.40). Este crescimento tão acelerado, que persiste com a possibilidade da descoberta de outros milhares de vírus ainda desconhecidos, torna a taxonomia um campo dinâmico e em constante atualização.
Para lidar com esse novo cenário, o ICTV reformulou profundamente o sistema taxonômico, incorporando critérios derivados de análises genômicas, como fenótipos inferidos, relações filogenéticas, homologia e métricas de divergência. Desde 2021, a nomenclatura oficial das espécies passou a adotar o formato binomial (Gênero + espécie), semelhante ao usado na biologia de plantas e animais: nome do gênero seguido por um epíteto específico, não necessariamente em latim. A hierarquia também foi expandida de cinco para 15 níveis taxonômicos, permitindo uma classificação mais detalhada e fiel às relações evolutivas entre os vírus.
Vale destacar que, neste momento, as mudanças impactam sobretudo na comunicação científica. Os nomes comuns dos vírus - como IBV (vírus da bronquite infecciosa), IBDV (vírus da doença infecciosa da bursa), MDV (vírus da doença de Marek) ou FeLV (vírus da leucemia felina) -, permanecem inalterados e seguem amplamente utilizados fora do meio acadêmico. A atualização recai sobre a nomenclatura oficial, empregada em artigos, bancos de dados como o GenBank e diagnósticos laboratoriais, promovendo maior padronização internacional.
O papel da nomenclatura é servir como como linguagem universal, reduzindo ambiguidades geradas pelos múltiplos nomes comuns em diferentes idiomas. Uma taxonomia clara e harmonizada fortalece a vigilância epidemiológica, facilita a comparação entre estudos e impulsiona o avanço das pesquisas e aplicações tecnológicas. Como toda mudança de grande porte, sua adoção será gradual, mas tende a tornar a comunicação científica cada vez mais clara, consistente e integrada globalmente.
Veja alguns exemplos da nova nomenclatura:
NOME COMUM | NOVO NOME CIENTÍFICO |
ALV - Avian leukosis vírus | Alpharetrovirus avileu |
AMPV - Avian metapneumovirus | Metapneumovirus avis |
CAV - Chicken anemia vírus | Gyrovirus chickenanemia |
HVT - Turkey herpesvirus | Mardivirus meleagridalpha1 |
IBDV - Infectious bursal disease vírus | Avibirnavirus gumboroense |
IBV - Infectious bronchitis vírus | Gammacoronavirus galli |
MDV - Marek's disease vírus | Mardivirus gallidalpha2 |
NDV - Newcastle disease vírus | Orthoavulavirus javaense |
REV - Reticuloendotheliosis vírus | Gammaretrovirus aviretend |
FeLV - Feline leukemia vírus | Gammaretrovirus felleu |
FIV - Feline immunodeficiency vírus | Lentivirus felimdef |
PCV - Porcine circovirus | Circovirus porcine |
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