Diagnóstico e monitoria de FeLV: análise de provírus (DNA) ou vírion (RNA) Simbios Biotecnologia

Diagnóstico e monitoria de FeLV: análise de provírus (DNA) ou vírion (RNA)

Dentre as ferramentas disponíveis para veterinários no diagnóstico e acompanhamento clínico de felinos com Vírus da Leucemia Felina (FeLV), a PCR tem ganho protagonismo, sendo considerada atualmente avaliação essencial e ótima aliada ao teste sorológico, que detecta a presença de proteínas virais (antígeno p27). Conforme discutido em publicação anterior, a carga viral detectada fornece informações críticas sobre a resposta imunológica do felino à infecção, permitindo determinar a fase da doença.

Mas, diante das particularidades do vírus, surgem questionamentos para os veterinários: optar pela análise de qPCR, que detecta o DNA viral integrado (provirus) ao genoma do gato infectado, ou pela RT-qPCR, capaz de identificar a forma infectiva do vírus (virion) através do RNA?

Antes de decidir qual teste molecular solicitar, é essencial compreender o ciclo de infecção do FeLV no hospedeiro. Após o contato inicial, o vírus utiliza receptores específicos para invadir principalmente células da linhagem hematopoiética. Como pertence à família dos retrovírus, ele possui genoma de RNA que, uma vez dentro da célula, é convertido em DNA pela enzima transcriptase reversa. Esse DNA proviral é então integrado ao genoma da célula do hospedeiro, podendo promover viremia nas primeiras semanas; logo após, poderá permanecer latente ou ser transcrito novamente, originando novos vírions que são lançados na corrente sanguínea.

É justamente por esta característica que promoverá a existência da forma latente (DNA proviral) ou ativa (RNA viral), que a detecção diferencial do material genético viral evidenciará por meio das diferentes metodologias:


DNA proviral (integrado ao genoma do hospedeiro) – qPCR em amostras de sangue total

O que detecta: DNA do vírus FeLV integrado ao genoma hospedeiro.

Indicado para: 

● detectar infecção pregressa por FeLV, pois o DNA proviral permanece integrado ao genoma das células hematopoiéticas, mesmo após a extinção da viremia.

● confirmar resultados positivos de imunoensaios (detecção do antígeno p27).

definir carga proviral (quantidade de DNA proviral detectado), diferenciando infecções regressivas (cargas baixas) de progressivas (cargas altas).

RNA viral (presente nos vírions circulantes) – RT-qPCR em amostras de sangue total ou saliva:

O que detecta: RNA do vírus FeLV, de partículas virais circulantes.

Indicado para:

● definir a viremia, ao indicar replicação viral ativa. Trata-se do RNA proveniente de vírus, liberado no sangue, ou saliva.

● auxiliar no diagnóstico precoce da infecção, logo após a exposição ao vírus.

● auxiliar na evolução clínica da infecção, já que a alta carga viral está associada ao estágio de infecção progressiva.

● Indicar o potencial de transmissão do vírus para outros felinos. A detecção de RNA viral na saliva, por exemplo, sugere a liberação ativa de vírions e, portanto, alta infectividade.


Para o acompanhamento da Leucemia Felina, a detecção combinada de RNA e DNA oferece o retrato mais completo do status infeccioso. Isso porque a evolução dos diferentes estágios (progressivo, regressivo ou latente) e a interpretação isolada de apenas um dos testes podem levar a conclusões incompletas. Como visto anteriormente, a quantificação é uma ferramenta importante para diferenciar as formas progressivas e regressivas da infecção, sendo mais frequentemente indicada por meio da detecção do provírus (DNA) com a utilização da qPCR (1, 2, 3, 4, 6, 7), mas também pela quantificação do virion (RNA) pela RT-qPCR (1, 8).

Veja abaixo os cursos de infecção pelo Vírus da Leucemia Flina (FeLV) e os resultados esperados dos testes:



* pode ser detectado em baixa carga viral.

Adaptado do European Advisory Board on Cat Diseases.


Resultados discordantes (RNA negativo e DNA positivo em baixa carga) são típicos de infecções regressivas.

Resultados concordantes (RNA positivo e DNA positivo em alta carga) são típicos de infecções progressivas.


Compreender o uso e a interpretação correta dessas ferramentas é essencial para uma conduta clínica mais assertiva. 

Confira em nosso site as modalidades para diagnóstico de FeLV e conte com a expertise da Simbios para garantir resultados confiáveis.


Referências

1. Little, S., Levy, J., Hartmann, K., Hofmann-Lehmann, R., Hosie, M., Olah, G., & Denis, K. S. (2020). 2020 AAFP feline retrovirus testing and management guidelines. Journal of feline medicine and surgery, 22(1), 5-30.

2. Beall, M. J., Buch, J., Cahill, R. J., Clark, G., Hanscom, J., Estrada, M., ... & Chandrashekar, R. (2019). Evaluation of a quantitative enzyme-linked immunosorbent assay for feline leukemia virus p27 antigen and comparison to proviral DNA loads by real-time polymerase chain reaction. Comparative Immunology, Microbiology and Infectious Diseases, 67, 101348.

3. Giselbrecht, J., Jähne, S., Bergmann, M., Meli, M. L., Pineroli, B., Boenzli, E., ... & Hartmann, K. (2023). Prevalence of different courses of feline leukaemia virus infection in four European countries. Viruses, 15(8), 1718.

4. Hartmann, K. (2017). Regressive and progressive feline leukemia virus infections-clinical relevance and implications for prevention and treatment.

5. Hofmann-Lehmann, R., & Hartmann, K. (2020). Feline leukaemia virus infection: A practical approach to diagnosis. Journal of Feline Medicine and Surgery, 22(9), 831-846.

6. Torres, A. N., Mathiason, C. K., & Hoover, E. A. (2005). Re-examination of feline leukemia virus: host relationships using real-time PCR. Virology, 332(1), 272-283.

7. Duda, N. C., Ortiz, L. C., Valle, S. F., da Costa, F. V., Varela, A. P. M., Nunes, N. J., ... & González, F. H. (2020). Comparative Immunology, Microbiology and Infectious Diseases. Comparative Immunology, Microbiology and Infectious Diseases, 71, 101491.

8. Tandon, R., Cattori, V., Gomes-Keller, M. A., Meli, M. L., Golder, M. C., Lutz, H., & Hofmann-Lehmann, R. (2005). Quantitation of feline leukaemia virus viral and proviral loads by TaqMan® real-time polymerase chain reaction. Journal of virological methods, 130(1-2), 124-132.


Veja também:

Retroviroses felinas: desafios no diagnóstico

FIV e FeLV: parâmetros do diagnóstico molecular

Análise epidemiológica do vírus da leucemia em gatos domésticos no Brasil