Interpretando valores de CT

Em PCR em tempo real (qPCR), o valor de CT (Cycle Threshold) serve como um indicador prático e indireto para estimar a quantidade inicial de material genético (carga do patógeno ou quantidade do gene de interesse) presente na amostra. Embora este texto não aborde métodos de quantificação absoluta (com curva padrão) ou relativa (com genes de referência), a estimativa baseada no CT permite comparações simples. Assim, é possível inferir se a carga de um agente é alta ou baixa ou se uma amostra está mais concentrada que outra, sempre considerando, com cautela, as condições metodológicas e o contexto biológico da análise.

Primeiramente, é preciso compreender que a interpretação dos valores de CT está diretamente relacionada ao número de ciclos de amplificação necessários para que a fluorescência emitida pela reação ultrapasse um limite predefinido (threshold), marcando o momento em que o sistema detecta, de fato, a presença do material genético do patógeno. Em termos práticos, significa dizer que amostras com maior concentração de DNA ou RNA do agente infeccioso atingem esse ponto de detecção mais rapidamente, ou seja, em um número menor de ciclos. Já amostras com menor quantidade de material genético exigem mais ciclos, até que a fluorescência se torne detectável.

Dessa forma, estabelece-se uma relação inversa entre o valor de CT e a quantidade inicial de material genético presente na amostra:


:: Valores baixos de CT indicam alta carga viral ou bacteriana, pois o alvo amplificado é detectado logo nas primeiras etapas da reação;

:: Valores altos de CT refletem baixas quantidades do agente, cuja detecção ocorre apenas após muitos ciclos de amplificação.


Esses valores podem ser organizados em faixas interpretativas, úteis para triagem e comparação. Entretanto, elas não são universais: variam conforme o alvo a ser amplificado, o protocolo empregado e o equipamento utilizado. Um CT considerado alto para um agente pode representar carga intermediária para outro, refletindo diferenças na cinética de replicação e na sensibilidade do ensaio.

Em reações típicas de qPCR com até 40 ciclos, os CTs geralmente se situam entre 15 e 37. Em aplicações práticas, laboratórios podem adotar classificações internas – por exemplo, CTs acima de 30 como cargas baixas e abaixo de 25 como elevadas. Ainda assim, esses intervalos devem ser tratados como referências relativas, ajustadas à realidade de cada método e contexto diagnóstico.

A qPCR segue uma progressão exponencial, em que a quantidade de DNA dobra idealmente a cada ciclo. Assim, diferenças entre valores de CT podem ser teoricamente comparadas. Pela expressão 2ⁿ, em que n é a diferença de CTs entre as amostras, é possível estimar a razão entre as cargas. Por exemplo, uma amostra positiva para o alvo, com CT 25, contém presumivelmente oito vezes mais material genético que outra com CT 28, pois 23 = 8. Essa inferência, contudo, requer cautela, já que pequenas variações metodológicas podem alterar significativamente este princípio.


Veja também:

Resultados da qPCR no limite de detecção

A importância do bom ajuste de baseline na qualidade dos resultados de qPCR

Qualidade dos resultados de qPCR no ajuste de threshold

Parâmetros de validação de métodos (Parte 1)

Parâmetros de validação de métodos (Parte 2)